Pedacinhos de uma história...

Imagem:René Magritte

Quando a gente passa toda uma vida em processo de aceitações, rompimento de sentimentos de dependência e medos dos mais simples aos mais complexos; que aprisionam a nossa própria essência, nossos sonhos, desejos e  a vontade de voar rumo ao novo, qualquer pequena atitude é um grande passo.
As pessoas no geral, tanto os amigos mais próximos quanto os conhecidos foram sempre levados a sério por minha necessidade de aprovação. Pode-se dizer que desde muito pequeno tinha o costume de levar e muito em consideração a opinião que tinham ou faziam a meu respeito. O que na adolescência, fase que por si só pressupõe momentos de turbulências e transformações,  foi tomando proporções terríveis deixando marcas profundas. Junto com os mais confusos sentimentos de paixões e medos brotou o amor pelo teatro que na infância já me fazia brilhar os olhos nos momentos de histórias que ouvia na escola e nos livros ilustrados, sem palavras, que me levavam pra lugares imaginários. Uma certeza nessa época já fazia parte da minha vida, o amor que sentia sempre que tinha contato com a arte. Essa era a motivação para os meus dias. Nas noites enluaras, deitado no quintal da casa da minha infância, passava horas e horas olhando as estrelas e além das muitas imaginações eu tentava decifrar o futuro. Como serei quando for adulto? De que maneira vou viver? Bom, o que vinha em minhas imaginações era um homem rodeado de livros e amigos contando histórias e sorrindo sem medo. O Tempo foi passando e junto com ele foram poucos daqueles sentimentos de outrora. Surgiu aos 11 anos O menino do dedo verde, meu primeiro personagem numa peça de teatro, o que me transformou um bocado. O personagem em questão possuía o dom de curar e de levar a paz através da mão. Bastava um só toque com os dedos para que ódios se transformassem em amores, assim tinha o poder de curar. Apenas com o dedo. E com isso o outro se tornou ainda mais importante. Queria compartilhar, estar com as pessoas. Acreditava que poderia ser útil e também que de alguma maneira as pessoas gostavam de estar ao  meu lado. Era uma sensação boa, me sentia em paz comigo. Claro que em paralelo os problemas dos adultos ao meu redor continuavam, mas não me afetavam com tanta intensidade. O Universo mítico no qual estava mergulhando fazia parte de meu cotidiano, não como um lugar de fuga mas de descobertas, de encontro com o outro e comigo. Estava ampliando as possibilidades. Ao passar do tempo as responsabilidades da vida adulto começaram a ameaçar os sonhos e aos 13 anos vieram questionamentos sobre como continuar e de que maneira viver a arte. Trabalhei em diversas funções, mas nunca por muito tempo conseguia permanecer fazendo a mesma coisa, embora tivesse orgulho de ter o próprio dinheiro. O teatro foi ficando nas aulas de português, em encenações de datas comemorativas e aos 14 anos voltei ao teatro amador; onde só foi ressaltado o desejo de seguir esse caminho. Na adolescência tive muitos conflitos e passei por situações constrangedoras, justamente por dar credibilidade aos comentários pejorativos sobre o meu jeito de ser. Ou sobre o que as pessoas me julgavam ser. Aí vieram as acnes, as angústias (.........), as dúvidas e os conflitos por ter um sonho que pra alguns deveria ter ficado na infância. Com o passar dos anos a certeza em relação ao teatro foi aumentando e o que a principio era apenas uma brincadeira de criança se tornou uma orientação profissional, orientação de vida. Muitas lutas, vários desafios e a realização de sonhos. Estudo e dedicação misturados com persistência e coragem possibilitou a formação profissional. O ator se tornou professor e a docência foi caminhando paralelamente aos sonhos de viver a profissão, tornando-se perspectiva de manutenção da realidade profissional. Afinal em um país onde a arte não é valorizada, aqueles que conseguem sobreviver através de seus esforços produzindo e atuando são pessoas privilegiadas. Os sonhos foram administrados pelo viés da educação, ou seja, para que pudesse realizar o sonho de fazer teatro foi preciso buscar caminhos e como ator me descobri cada vez mais professor, o que se tornou uma paixão. A docência ampliou meu olhar, possibilitou novos horizontes. O tempo voa e já são dez anos de docência em teatro, sete no mesmo lugar, mais que o tempo é o significado que isso representou esses anos. O que era caminho se tornou opção e a orientação do ser ator foi ficando de lado. Os sonhos foram ficando sem cor e tudo começou a não ter sentido. Dois anos de muitas incertezas, vazios e frustrações o outro de assédios e exclusões. A certeza se fragilizou e o chão saiu do lugar. É preciso voltar ao eixo e seguir o caminho. É preciso de coragem e lidar com os medos. (......) É tempo de olhar pra dentro.
Adrianno Rodrigues

Comentários

Postagens mais visitadas