Etéreo...



De um lugar em que o tempo não passa, apenas disfarça a fugaz felicidade, vem se achegando bem de mansinho um SER de olhares cristalinos, profundos e serenos; construídos com pedacinhos de sol e de lua. Acordado de um sono profundo vai se abrindo os frágeis e dóceis braços que de tão grandes mal cabem naquele mundo tão pequenino. Da boca macia feita de orvalho das noites de melancolia sopram melodias de uma tonalidade indefinida, de um som jamais ouvido; de palavras sentidas e inesperadas. Cada movimento deixa no ar o rastro de um odor etéreo. Subitamente com os pés descalços risca na terra um círculo de um azul que de tão intenso faz jorrar em seu peito pétalas transparentes de uma planta desconhecida. De repente nasce o amor e tudo começa a ficar diferente, em cada canto um jeito novo de sentir. As pessoas já habitantes daquele mundo passam a enxergar aquele SER, antes insignificante, com olhares amendrontados e  curiosos. O mundo começa a ficar grande demais e os sentimentos amontoados se sufocam em incertezas e desafetos. Assustados com aquela criatura desconhecida e não domesticada decidem expurgar a ameaça. No amanhecer raios de luz penetram a silhueta e os longos e dourados cabelos que inexplicávelmente crescem sem parada transformando-se em asas o levando longe dali. O SER de carona com o vento vai escalando as nuvens e de longe a imagem dos habitantes daquele lugar vai se desfazendo. Deixando para tráz aquele mundo que não cabia em teus sonhos decidiu riscar outro círculo, ainda maior, de cor mais intensa; com palavras, sentimentos, que guardava arquitetou um novo mundo. Cheio de coragem e com a vida sorrindo em seus olhos decidiu que em cada ciclo experimentaria outros sabores e paisagens. Decidiu que aceitaria a felicidade como habitante e a infelicidade como visitante de seu mundo. Queria manter as duas sempre por perto para que tudo pudesse continuar no eixo. E assim o tempo foi passando; o SER morreu e nasceu várias vezes e sempre num novo corpo. Bebeu todas as bebidas, sentiu todos os sabores, viveu muitos amores;  foi crescendo e tomando formas diversas e distintas.

ADRIANNO RODRIGUES

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